Um rio nunca é o mesmo..


EU... caçador(a) de mim


O fator tempo muda de forma irreversível um objeto ou entidade...

e o que pensamos ser a mesma coisa, só porque tem o mesmo nome, na realidade é algo em fluxo contínuo de mudança.

Compartilho o meu olhar...o meu olhar mutante.

junho 19, 2008

Quanto custa um pôr de sol?

“O Sol” /Edvard Munch (1863-1944)



Leonardo Boff

Um grande empresário americano, estando em Roma, quis mostrar ao filho a beleza de um pôr de sol nas colinas de Castelgandolfo. Antes de se postarem num bom ângulo, o filho perguntou ao pai:”pai, onde se paga”? Esta pergunta revela a estrutura da sociedade dominante, assentada sobre a economia e o mercado. Nela para tudo se paga - também um pôr de sol - tudo se vende e tudo se compra. Ela operou, segundo notou ainda em 1944 o economista norte-americano Polanyi, a grande transformação ao conferir valor econômico a tudo. As relações humanas se transformaram em transações comerciais e tudo, tudo mesmo, do sexo à Santísssima Trindade, vira mercadoria e chance de lucro.

Se quisermos qualifica-la, diríamos que esta é uma sociedade produtivista, consumista e materialista. É produtivista porque explora todos os recursos e serviços naturais visando o lucro e não a preservação da natureza. É consumista porque se não houver consumo cada vez maior não há também produção nem lucro. É materialista pois sua centralidade é produzir e consumir coisas materiais e não espirituais como a cooperação e o cuidado. Está mais interessada no crescimento quantitativo – como ganhar mais – do que no desenvolvimento qualitativo – como viver melhor com menos – em harmonia com a natureza, com equidade social e sustentabilidade sócio-ecológica.

Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um por do sol. Não se compra na bolsa a lua cheia “que sabe de mi largo caminar”. A felicidade, a amizade, a lealdade e o amor não estão à venda nos shoppings. Quem pode viver sem esses intangíveis? Aqui não funciona a lógica do interesse, mas da gratuidade, não a utilidade prática mas o valor intrínseco da natureza, da ridente paisagem, do carinho entre dois enamorados. Nisso reside a felicidade humana.

O insuspeito Daniel Soros, o grande especulador das bolsas mundiais, confessa em seu livro A crise do capitalismo (1999):”uma sociedade baseada em transações solapa os valores sociais; estes expressam um interesse pelos outros; pressupõem que o indivíduo pertence a uma comunidade, seja uma família, uma tribo, uma nação ou a humanidade, cujos interesses têm preferência em relação aos interesses individuais. Mas uma economia de mercado é tudo menos uma comunidade. Todos devem cuidar dos seus próprios interesses...e maximizar seus lucros, com exclusão de qualquer outra consideração”(p. 120 e 87).

Uma sociedade que decide organizar-se sem uma ética mínima, altruísta e respeitosa da natureza, está traçando o caminho de sua própria auto-destruição.

Então, não causa admiração o fato de termos chegado aonde chegamos, ao aquecimento global e à aterradora devastação da natureza, com ameaças de extinção de vastas porções da biosfera e, no termo, até da espécie humana.

Suspeito que ao não quebrarmos o paradigma produtivista/consumista/materialista em direção do cultivo do capital espiritual e da sustentação de toda a vida, com um sentido de mútua pertença entre terra e humanidade, podemos encontrar pela frente a escuridão.

Devemos tentar ser, pelo menos um pouco, como a rosa, cantada pelo místico poeta Angelus Silesius (+1677) : “a rosa é sem porquê: floresce por florescer, não cuida de si mesma nem pede para ser olhada”(aforismo 289). Essa gratuidade é uma das pilastras do novo pardigma salvador.

junho 02, 2008

1a. Convenção Familiar - Temporada 2008


Pablo Picasso, Mulheres correndo na praia, ( A Corrida )
Guache sobre prensado/ Musée Picasso/ Paris.


Queridos filhos,

Em primeiro lugar, Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta "Primeira Convenção Familiar".

Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês:
Papai tinha uma lavagem de carro praticamente inadiável, Júnior já tinha
marcado de se trancar no quarto, Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um.

Mamãe está comovida. Muito obrigada.

Bem, conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado, esta convenção é para comunicar ao público interno - Papai, Júnior e Carol - todas as modificações nos produtos e serviços da linha Mamãe.

Como vocês sabem, a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos, com o nascimento do Júnior. De lá para cá, os hábitos e costumes, o panorama cultural, a economia e o mercado passaram por transformações radicais.

Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos, sob pena de ver sua marca desvalorizada.

Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem. Mamãe sabe que esta é uma decisão polêmica, mas, acreditem, é o que deve ser feito.

Mamãe sai desta convenção direto para um spa, e de lá para uma clínica de cirurgia plástica. Nada assim tão radical.

Haverá pouquíssimas alterações de rótulo, vocês vão ver.

Mamãe vai continuar com praticamente o mesmo formato, só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas mais curvas em outros.

Calma, Papai. Mamãe já captou recursos no mercado. Mamãe vai ser
patrocinada por uma nova marca de comida congelada.

Lei Rouanet, porque Mamãe também é cultura.

Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento.

Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto Supermãe.

Não, não, não adianta reclamar. Supermãe já deu o que tinha de dar.

Trata-se de um produto anacrônico e superado, antieconômico e difícil de
fabricar.

Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha
Vovó,que disputa o mesmo segmento.

Paciência!
Você não pode atender todos os públicos o tempo todo!

No lugar da Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que eu dissesse 'vai estar lançando', mas eu me recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade do mercado.

Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões:
- Active (executiva e profissional);
- Light (com baixos teores de pegação de pé);
- Classic (rígida e orientadora);
- Italian (superprotetora);
- Do-It-Yourself (virem-se, fui passear no shopping).


Mas uma de cada vez, sem misturar. Ah, sim, Mamãe detesta esses nomes em inglês, mas me disseram que, se não for assim, não vende.

Mamãe gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar seus novos canais de comunicação.

De hoje em diante, em vez de sair gritando pela casa, vocês vão poder
ligar para o SAC-Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular(apenas 27 centavos por minuto, mais impostos).


Mamãe também aceita sugestões e críticas no endereço mamae@mamae.net

Mais uma vez Mamãe agradece a presença e a atenção de todos.

Aguardem: vem aí a Nova Mamãe!

(Autoria Desconhecida)

NÃO É GENIAL??????????