Um rio nunca é o mesmo..


EU... caçador(a) de mim


O fator tempo muda de forma irreversível um objeto ou entidade...

e o que pensamos ser a mesma coisa, só porque tem o mesmo nome, na realidade é algo em fluxo contínuo de mudança.

Compartilho o meu olhar...o meu olhar mutante.

dezembro 15, 2007

A face oculta da violência

por Flávio Luiz Gomes Bastos

Crianças sem...
não são crianças nota cem ou crianças "zen".

Crianças sem...
são crianças sem nada mesmo,
sem lar, sem pais, carinho ou afeto.

Crianças sem...
são nati-mortos "vivos",
zumbis sem perspectivas de vida
no presente ou no futuro.

Crianças sem...
São a face oculta da ignorância, da corrupção,
do descaso, da insensatez,
da irresponsabilidade e do abandono.

Crianças sem...
São a face oculta do orgulho, da vaidade,
do egoísmo e da prepotência.

Crianças sem...
São órfãos da miséria gerada pela ganância
e pela insensibilidade a valores
humanos e espirituais.

Crianças sem...
São filhos paridos da irresponsabilidade social
geradora da indiferença que gera violência
e mais violência em efeito cascata.

Crianças sem...
São crianças zero em amor,
mas "escoladas" na dificuldade,
no sofrimento, na dor... e no desamor.

Crianças sem...
não têm nada a perder,
pois já perderam tudo... ou quase tudo.
Menos o direito à sobrevivência e,
quem sabe um dia,
o direito à dignidade e ao amor!

Canalizado em 23/11/07

"A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes, por Lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade".
Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu 3° artigo.

"Cerca de 45% dos indigentes brasileiros têm menos de 15 anos. Um apelido apropriado à nosssa prática social seria Guilherme Tell, uma alusão ao personagem suiço que ficou conhecido por atirar flecha sobre a cabeça de seu filho".
Marcelo Neri em "As crianças sem futuro", artigo publicado no Jornal do Brasil.

"A utilidade de passar pelo estado de infância é que encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o espírito é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo".
A finalidade da infância em "O Livro dos Espíritos" de Allan Kardec.

"A paternidade é, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro".
A missão dos pais em "O Livro dos Espíritos" de Allan Kardec.




dezembro 06, 2007

O aluno falha?????? ou falha a educação ????



Nesta semana foi divulgado o resultado sobre o PISA(Programa Internacional de Avaliação de Alunos)que é uma avaliação internacional sobre educação em diferentes áreas do conhecimento. As avaliações do PISA incluem cadernos de prova e questionários e acontecem a cada três anos, com ênfases distintas em três áreas: Leitura, Matemática e Ciências.

O Brasil obteve um dos piores desempenhos. A julgar pelos resultados do Pisa, divulgados no dia 5 de dezembro, em Brasília, os estudantes brasileiros pouco entendem do que lêem. O Brasil ficou em último lugar, numa pesquisa que envolveu 32 países e avaliou, sobretudo, a compreensão de textos em alunos de 15 anos.

O Brasil obteve 396 pontos, 150 a menos que a Finlândia, país mais bem colocado. A Finlândia atingiu o nível 4, enquanto a média brasileira não passou do nível 1, atrás de outros países emergentes, como Rússia e México, que alcançaram o nível 2. No Brasil, as provas foram aplicadas em 4,8 mil alunos, da 7a série ao 2º ano do Ensino Médio.

Como brasileira é triste ler notícias como estas, que saíram esta semana, e como professora então...é desconcertante, é lamentável, é chocante, é...!!!

Na coluna da Míriam Leitão de hoje, no Jornal o Globo, o tema foi muito bem abordado e concordo com ela em gênero, número e grau.

Artigo da Míriam Leitão no Jornal O Globo de 6 de dezembro de 2007.

Tema: EDUCAÇÃO

Mãe das Batalhas

Se ganharmos todas as batalhas, menos a da educação, perderemos a guerra. Se tivermos os melhores fundamentos macroeconômicos, mas os jovens não entenderem o que lêem, não haverá futuro. A educação é a mãe de todas as lutas. Uma economia em recessão pode se recuperar mais adiante, pelo próprio movimento dos ciclos; perder os cérebros de uma geração inteira é fatal.

Está difícil escrever hoje. Há dias assim: piores, dolorosos. O Senado se abastarda nos conchavos, os prisões oferecem ao país cenas medievais, a violência colhe suas vítimas indefesas nas ruas; por insensatez e descuido destruímos a Amazônia. Tudo aflige. Mesmo assim, é possível achar que isso é conjuntural. Sonhar que um dia colheremos senadores que nos orgulhem, construiremos prisões onde criminosos paguem sua dívida com a sociedade de forma civilizada, que a indignação seja tamanha que nunca mais uma menina seja trancada numa cela com homens. Mas como se proteger do pessimismo diante do teste internacional Pisa? Isso derrota.

Perdemos para o Chile e para o México. Perdemos para quase todos, em quase tudo. Retrocedemos na mais fundamental das habilidades: a leitura. Há 500 anos, o sistema educacional se estruturou em torno do livro, mas o Brasil, no começo do século XXI, não consegue capturar os estudantes para o prazer da leitura. Prazer que meus pais e professores me ensinaram na infância e ao qual tributo cada um dos meus êxitos. Quem não lê não pensa bem. Quem não é ensinado a pensar jamais vai realizar seu potencial. Seguirá apequenado, subutilizado, subdesenvolvido. Um país de apequenados jamais será grande.

Quando alguns alunos falham, a culpa pode ser dos alunos; quando tantos falham, foi a escola que fracassou. Há tantos motivos para a nossa tragédia educacional que é difícil saber por onde começar.

O Brasil gasta mais por aluno no ensino superior que inúmeros países do mundo. O governo Lula aumentos de 70% para 75% a fatia do bolo federal da educação que vai para as universidades, quando a nossa tragédia começa no fundamental. Alguns professores gastam mais tempo se mobilizando por melhores salários e reivindicações da categoria que na dedicação aos alunos. Os livros didáticos forma contaminados por ideologia de terceira categoria. Mestres se aposentam cedo demais, e o Brasil perde a maturidade de suas vocações, o auge do seu conhecimento. Muitas famílias não se envolvem com a educação dos seus filhos, achando que isso é obrigação das escolas. A classe média paga colégio particular, debita uma parte do gasto no Imposto de Renda, não cobra qualidade da escola que paga, depois põe os filhos num bom cursinho para não gastar com a universidade. Os muito ricos escapam da tragédia coletiva alienando os filhos em escolas estrangeiras. Governos acham, como o atual, que
devem mudar as políticas anteriores apenas por idiossincrasias político-partidárias. Empresas pensam que, se forem exigentes nos seus processos de seleção, serão competitivas, mas começam a descobrir que não têm onde fazer sua seleção. A incapacidade administrativa paralisa bons projetos, como o da informatização das escolas, cujo financiamento foi esterilizado no Fust. Ministros pedem mais dinheiro sem oferecer em troca qualquer melhoria de gestão. Alunos passam de ano sem ter aprendido, só porque reprovar não é politicamente correto. Imposto para qualificar o trabalhador financia sindicato de empresário. Fundo de Amparo ao Trabalhador financia empresas. Nosso único acerto nas últimas décadas foi universalizar o ensino, ainda que tarde.

A tragédia da educação pode ser vista pela economia. Na era do conhecimento, a mais importante habilidade a desenvolver é a capacidade de pensar, o que só se consegue com educação de qualidade. Na era da globalização, as empresas tendem a espalhar pelos países etapas do seu processo produtivo, escolhendo cada local pela vantagem competitiva. Um país sem cérebros treinados ficará com o que há de mais tosco, com as etapas de menor valor agregado e salário. Os países competem por localização de investimento e mercados. Um país com uma mão-de-obra sem qualificação inevitavelmente perderá a competição.

Mas o mais relevante não é a economia. Um ser humano não é apenas a sua força de trabalho. A educação não é só o treinamento de trabalhadores, por mais importante que isso seja. A educação é a única forma permanente de redução das desigualdades. O trabalhador que está hoje em alguma fazenda sendo escravizado ou submetido a trabalho degradante foi aprisionado na cadeia do analfabetismo. O ribeirinho que está com uma arma na cabeça na Amazônia, tendo que abandonar sua terra para que o grileiro ocupe tudo para desmatar, não sabe nem ler o documento que lhe apresentam para assinar. É a ignorância que desampara.

A educação é, sobretudo, a forma de realização plena das tantas e tão versáteis capacidades humanas. Mais que treinar o trabalhador, forma o cidadão, amplia horizontes, alimenta ambições. Por isso é a mãe de todas as batalhas. Nós a estamos perdendo no momento mais decisivo da construção do país, quando a maioria da população é jovem. Temos em idade escolar (no ensino fundamental e médio) 37 milhões de brasileiros. E eles estão em perigo.

dezembro 01, 2007

ÍTACA


ÍTACA

Konstantinos Kaváfi(tradução de José PauloPaes)


Se partires um dia rumo a Ítaca
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem os Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Poseídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Poseídon hás de ver,
se tu mesmo não o levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver, de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha, velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso, não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.
Konstantinos Kaváfis
(tradução de José PauloPaes)